Meu querido Sertão
O Mandacaru já secou
O mar azul na cabeça
A Fogo-pagou se mandou
Sob os pés quente dureza.
Sertanejos olham a Deus
Clama por socorro e pão
Deixam o Norte com adeus
Para o Sul se perderão.
Comi calango assado
Dormi de barriga vazia
Hoje moro no São Paulo
Chorando a bela Bahia.
Nordestino eu sempre fui
Orgulho eu tenho muito
O sangue grita, geme, flui
Sonho voltar ao meu mundo.
Recordo-me da infância
Do cavalo adestrado
Vivendo a ignorância
Conhecedor dos culpados.
Faltava água no balde
Faltava carne na chapa
Sobravam bênçãos de Padres
Sobravam rios de lágrimas.
O que faço, meu Senhor Deus?
Interceda oh! Mãe Maria
O que tinha o filho comeu
Abafe as dores dos dias.
A vida aqui é sofrida
Enxada não entra no chão
Caboclo enche de vida
Quando a chuva cai no Sertão.
A coisa é assim mesmo
Sofrimento e vida dura
Nós que somos sertanejos
Não vemos aí amarguras.
Viver aqui nos dá prazer
Lutar é uma obrigação
O homem que aqui nascer
Carrega a paz no coração.
Não importa o sofrimento
Nem tão pouco a solidão
Para tudo há remendo
Quando se fala em Sertão.