- Alunos, caso o Sindicato da categoria decida a favor da greve, amanhã não teremos aula.
- Graça a Deus! – grita Pedrinho feliz da vida.
- Por que essa alegria toda, Pedrinho? – indaga a Professora.
- Sem aula poderemos brincar a vontade. Tomara que o Presidente não conceda suas reivindicações.
- Você está doido, menino! Não fale uma coisa dessas. Estudar é muito bom.
- Ensinar é bom, Professora? A senhora mesmo não cansa de dizer que se encontrasse outra profissão nunca mais lecionaria.
- É diferente.
- Já aprendi na escola o suficiente para se dá bem na vida.
- Já aprendeu!
- Já sim. Para que mesmo eu quero saber essas formulas malucas que nunca iremos usar? Regras que só servem para encher papel.
- O senhor está equivocado. A educação é a base de tudo. Só quem se dedica aos estudos é que tem um futuro de sucesso.
- Tem muitos políticos que pouco tempo passou sentando em um banco destes e hoje são milionários.
- Ter sucesso na vida não é somente ter dinheiro.
- Professora, eu já sei soletrar. Quer ver: b com a, ba; b com é, be; b com i, bi; b com o, bo.
- Esqueceu-se do B com u, bu.
- Sê tá doida, Professora.
Os demais alunos caíram na gargalhada.
- Deixe-me continuar, Professora. C com a, ca; c com é, ce; c com o, co; c com u…
- Pode parar, seu moleque atrevido! Não gosto de gracinha em minha sala de aula não.
Os alunos assobiavam, sorriam, gritavam, era uma festa só.
- Professora, não fique nervosa, a senhora sabe, amanhã será feriado. Amanhã no cedo estarei no rio a tomar banho. Deus, como o senhor é bom para as criancinhas!
- Só pelo que acabei de ouvir, minha opinião é que não tenha mais greve.
- Não pense negativo, Professora. Para que fazer amanhã o que se pode fazer depois? Quem trabalha muito é americano e japonês; brasileiro, só sonha com sombra e água fresca.
- É por isso que o Brasil está como está.
- Quem disse que eu trocaria meu paraíso por residir nas terras estressantes dos gringos? Quem trabalha muito é jumento. Pare e olhe para a cara de um pobre jegue, dá vontade até de chorar, pois só anda cansado.
- Nossa conversa já se estendeu demais. Vamos voltar à lousa. Doze mais doze?
- Vinte e quatro, vou ao banheiro e volto rápido – Pedrinho respondeu e saiu correndo porta a fora. Dor de barriga, ou mais uma do moleque travesso?