O dia abre os seus gigantescos olhos e espanta o breu da noite, desperta devagar, aos poucos vai crescendo para ao meio dia voltar à dura missão do desfalecer. A vida, filha do rei Sol, caminha entre os opostos das fases, dia e noite, em busca de novas histórias.
Abrir-me os olhos, deixei os sonhos e os pesadelos na cama, à noite, se Deus quiser, voltarei a estar com eles novamente. Preparado para as lutas, pelo menos é o que eu acho.
Os galos cantam sem parar, canta um daqui, canta um acolá, um dá bom dia no norte, ou diz acordei no sul, que orquestra afinada.
Levanto-me e pego a escova e passo nos dentes, lavo o rosto com água fria, penteio meus cabelos e vou à padaria.
O dia está fresco, sobre uma montanha ao leste uma barra de nuvens cobre o seu cume. Venta, mas brandamente. Alguns estudantes, todos de braços cruzados, usando proteção contra o tímido frio estão em rota para aprendizagem. O dia começa a caminhar e a soltar bocejos, tem preguiça, os humanos acompanham o seu ritmo. Em um beco, uma senhora varre o lixo, o vento atrapalha; na rua a frente, um motociclista desce rapidamente carregando seu enorme fardo, só ele para dizer qual. Em minha frente alguns pombos procuram comidas entre os paralelepípedos.
Na padaria uma pequena fila começou a se formar, tão pequena que conto apenas com os dedos de uma mão, um, dois, três e comigo quatro. Poucos minutos, dois no máximo, chega a minha vez, troco o meu suado dinheiro pelo esforço do padeiro e do balconista. Troca justa, a sociedade necessita dos trabalhos opostos para não parar. Os pães estão quentinhos, o cheiro é agradável. O café na prateleira também solta o seu singelo aroma. Enquanto ia saindo uma senhora entrava e já anunciava que queria leite. Sair e já não fazia mais parte daquele pequeno, mas importante mundo.
Voltava contando os passos. Como moramos em cidade pequena, toda pessoa que encontramos a saudamos com um oi, bom dia, ou se estiver guiando um automóvel ou uma motocicleta acenamos com a mão, eles retribuiu a gentileza com dois ligeiros toques na buzina.
Passo perto de uma casa e escuto o barulho da água a encher uma caixa azul que se encontra no alto.
Agora estou sentado a escrever, ainda não tomei café, porém minha barriga grita pelos pãezinhos. Uma pombinha canta incessantemente em uma velha goiabeira no quintal do vizinho ao lado. De lá de fora vem o barulho de automóveis, das folhas do coqueiro, o do vento.
Esse foi o início de uma manhã em uma pequena cidade do interior baiano, nas bandas do Sertão, dentro da Chapada Diamantina. Manhã do dia 20 de junho de 2013.